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domingo, 27 de setembro de 2009

Do Proto-Indo-Europeu ao Grego, Latim e Inglês 2

7. Consoante sibilante: s. Em latim permaneceu inalterada (tornou-se R entre vogais). Em grego se tornou H em posição inicial, S antes de p, t ou k e desapareceu entre vogais. Em inglês se tornou R após vogal átona e permaneceu inalterada em outros casos.
Exemplos:
PIE seh3wl > latim sol, grego ήλιος, inglês sun
PIE h2ster > latim stella, grego αστέρι, inglês star

8. Consoantes nasais: n, m. N permaneceu inalterado em todas as três línguas. M também mudou pouco, tendo apenas se tornado N ao final das palavras em grego e desaparecido ao final de palavras em inglês. Quando silábicos, ambos se tornaram A em grego. Em latim se tornaram EN e EM e em inglês ambos se tornaram UN.
Exemplos:
PIE mens (lua) > latim mensis, grego μἠνας, inglês moon, month
PIE dekm > latim decem, grego δέκα, inglês ten (do proto-germânico tehun)
PIE kymtom > latim centum, grego εκατο, inglês hundred (proto-germânico hunda-rath)
PIE nokwts > latim nox, grego νυξ, νύχτα, inglês night.

9. Consoantes líquidas: l, r. Quando não silábicas permaneceram inalteradas. Quando silábicas, se tornaram LA e RA em grego, OL e OR em latim e UL e AUR em línguas germânicas.
Exemplos:
PIE leigyh (lamber) > latim lingere, grego λείχω, inglês lick
PIE leuk (luz, brilho) > latim lux, grego λευκὀς, inglês light
PIE wlkwos (lobo) > latim lupus, grego λύκος, inglês wolf
PIE rap (nabo) > latim rapus, grego ράφος

10. Consoantes aproximantes: w, y. Y permaneceu inalterado em inglês, bem como no começo de palavras em latim, tendo desaparecido intervocalicamente. Em grego, desapareceu intervocalicamente e no começo de palavras se tornou Z. W permaneceu inalterado em inglês, em latim se tornou V e em grego desapareceu em todas as posições.
Exemplos:
PIE weyd (ver, saber) > latim video, grego είδω, δω, inglês wid (alemão weisen)
PIE yeh3r (ano, estação) > latim hornus, grego ώρα, inglês year 

Do Proto-indo-europeu ao Grego, Latim e Inglês

Vamos ver agora como os sons do Proto-indo-europeu evoluíram para o Grego, Latim e Inglês:

1. Consoantes oclusivas surdas simples: p, t, k. No grego e no latim estas consoantes se mantiveram inalteradas. Nas línguas germânicas elas se mutaram em fricativas: p se tornou f, t se tornou th e k se tornou ch (como no alemão) ou h. Uma excessão ocorre quando prececido de S, quando então f, t e k não mutaram em línguas germânicas.
Exemplos de palavras:
PIE peh2ter > latim pater, grego πάτερ, πατέρας, inglês father.
PIE meh2ter > latim mater, grego μήτηρμητέρα, inglês mother.
PIE treyes > latim tres, grego τρεις, inglês three.
PIE krewh2 (carne crua) > latim cruor (cru), grego κρέας (carne), inglês raw (cru, em inglês antigo hréaw).
PIE steh2 (estar parado) > latim sto (estou),  grego ίσταμαι (estar parado), inglês stand (estar parado).


2. Consoantes oclusivas surdas compostas: ky, kw.
KY em latim e grego se tornou um K simples. Em línguas germânicas se tornou y após vogal átona, k após "s" ou "f" e desapareceu quando entre duas vogais. Em outras situações, se tornou um h.
KW em latim permaneceu inalterado em sua maioria (qu), exceto antes de O e U, onde se tornou k (c). Em línguas germânicas, se tornou uma fricativa (hw), ou permaneceu inalterado após "s" ou "f". Em grego, se tornou T antes de E e I, K antes de U e P em outros casos.
Exemplos:
PIE kwetwores > latim quattuor, grego τέτταρες, τέσσερεις, inglês four (em proto-germânico petwor, provavelmente de alguma variação contendo p no local de kw).
PIE penkwe > latim quinque (de uma provavel forma pinque com "p" sendo homogeneizado com o "qu"), grego πέντε, inglês five (proto-germânico fimfi, vindo de femwe).

3.Consoantes oclusivas sonoras simples: b, d, g. Mantiveram-se inalterados em grego e latim. Em línguas germânicas se tornaram surdas: p, t, k.
Exemplos:
PIE demh2 (domesticar, domar) > latim domo, grego δαμάζω, inglês tame.
PIE gel (frio) > latim gelu, grego antigo γελάδρον, inglês cold.

4. Consoantes oclusivas sonoras compostas: gy, gw. GY se tornou G em latim e grego e K em inglês. GW se tornou V em latim (exceto quando precidido de N, onde não se alterou), KW em inglês e em grego se tornou B, D ou G, seguindo as mesmas regras de KW.
Exemplos:
PIE gyneh3 (saber) > latim gnosco, grego γνωρίζω, inglês know.
PIE gwena (mulher) > latim -, grego γυνή, γυναίκα, inglês queen.

5. Consoantes oclusivas sonoras simples aspiradas: bh, dh, gh.
Grego: se tornaram aspiradas sonoras: ph(φ), th(θ), kh(χ)
Latim: bh se tornou F (ou B entre vogais), dh se tornou F (ou D entre vogais e B nas situações "udh, rdh, dhr, dhl") e gh se tornou H (ou G antes de M, N, L ou R).
Inglês: perderam a sonorização: b, d, g. Entre vogais, BH se tornou F e GH se tornou W ou Y.
Exemplos:
PIE bher (carregar) > latin fero, grego φέρω, inglês bear
PIE dhuh3mo (fumaça) > latim fumus, grego θυμός, inglês damp

6. Consoantes oclusivas sonoras compostas aspiradas: gyh, gwh GYH seguiu as mesmas gregras de GH. Quando a GWH:
Latim: tornou-se F. Entre vogais se tornou G ou W e após N se tornou GW.
Inglês: tornou-se G ou B. Entre vogais se tornou W.
Grego: tornou-se ph, th ou kh, seguindo as mesmas gregras de bh, dh e gh.
Exemplos: 
PIE gyhel (brilhar) > latim fel, grego χλορος, inglês gold.
PIE gwherm (quente) > latim furnus, grego θερμός, inglês burn, warm.

Mais no próximo post!

Grego e Português, primos distantes

Γεια σας! Hoje vou falar sobre etimologia!

Todos sabem que o Português é um parente do Espanhol, do Italiano e do Francês, todos derivados do Latim, assim como muitos sabem que o Inglês e Alemão também são parentes. O que a maioria não sabe, no entanto, é que todas estas línguas são parentes entre si, junto com o Russo, o Polonês, o Persa, o Hindi, o Armênio e até mesmo o Grego!

Preste atenção nos nomes dos números de 1 a 10 em algumas línguas:
Português: Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez
Inglês: One, two, three, four, five, six, seven, eight, nine, ten
Russo: Odin, dva, tri. chetyre, pjat’, shést’, sem’, vosem’, devjat’,  desjat’
Hindi: Ek, do, teen, caar, paanca, ché, saat, aath, nau, das
Grego: Éna, dúo, tría, téssera, pente, eptá, októ, enniá, déka

Essas semelhanças se devem pelo fato de todas estas línguas descenderem de um ancestral comum, chamado Proto-indo-europeu. Apesar de não haver registros, as hipóteses mais aceitas é de que ele fosse falado perto do quarto milênio a.C, e já começara a se diferenciar em diferentes dialetos pelo final do terceiro milênio a.C.

A linhagem que originou o grego parece estar mais proximamente ligada às linhagens indo-iranianas (que incluem o hindi e o persa) e ao armênio, apesar de esta não ser uma opinião geral. O certo é que o grego foi uma das linhagens que se manteve mais “constante” com o passar dos milênios, não tendo derivado em um número tão grande de línguas filhas como aconteceu com as linhagens itálica (latim, português, francês…), eslava (russo, tcheco, polonês…) e germânica (inglês, alemão, sueco…).

Falando um pouco mais sobre o proto-indo-europeu, vejamos quais os fonemas que foram reconstruídos para esse idioma ancestral.
Como vogais verdadeiras, havia apenas uma posterior o e uma anterior e e nada mais.
Quanto às consoantes, elas incluíam 5 conjuntos de oclusivas, duas nasais, duas líquidas, uma sibilante , duas aproximantes e três ou quatro faríngeas.
1. Oclusivas bilabiais: P (como em pato), B (como em bato), BH (como no inglês noob hero)
2. Oclusivas coronais: T (como em tom), D (como em dom), DH (como no inglês had hidden)
3. Oclusivas velares: K (como em cota), G (como em gota), GH (como em leg horn)
4. Oclusivas palato-velares: KY (como em obséquio), GJ (como em águia), GJH
5. Oclusivas lábio-velares: KW (como em quando), GW (como em água), GWH
6. Nasais: M (como em mato), N (como em nato)
7. Líquidas: L (como em lua), R (como em rua)
8. Sibilante: S (como em saco)
9. Aproximantes: Y (como no inglês yes) e W (como no inglês way)
10. Faríngeas: este conjunto inclui 3 sons transcritos como h1, h2 e h3. A verdadeira natureza destes sons é alvo de disputas, variando entre um h do inglês, um j espanhol, uma parada glotal (como em n-n pra dizer “não”), entre outros. O certo é que a consoante h2, quando junto à vogal E, em muitas línguas derivadas transformou esse som em A, sendo então chamada de “a-colorante”, enquanto h3 transformava E em O, sendo conhecida como “o-colorante” e, portanto, provavelmente sendo acompanhada de uma labialização. Já h1 se mostrou mais neutra.
As consoantes M, N, R, L, Y e W podiam funcionar como núcleos silábicos, agindo como se fossem vogais. Grande parte dos Is e Us das línguas indo-europeias vieram de Y e W.

Os números de 1 a 10 reconstruídos no proto-indo-europeu são:
1. oy(nos)
2. dwoh1 ou dweh3
3. treyes
4. kwetwores
5. penkwe
6. swekys
7. septm
8. okto
9. h1newn
10. dekymnt

No próximo post falarei sobre as mudanças sonoras que ocorreram do proto-indo-europeu para o grego, o latim e o inglês e como achar palavras cognatas que muitas vezes parecem tão diferentes. Você sabia, por exemplo, que “wolf”, “lupus” e “lúkos” tem a mesma origem?
Até o próximo post! (talvez ainda hoje!)